HOMILIA DIÁRIA
MATEUS 18,1-5.10
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Os seus anjos nos céus veem sem cessar
a face do meu Pai que está nos céus.

Caros irmãos,
Paz e bem!

Ao celebrarmos a memória dos santos Anjos da Guarda, somos convidados a refletir não apenas sobre o papel desses seres celestiais, mas também sobre a missão de cultivar um coração semelhante ao de uma criança. No Evangelho de hoje, Jesus nos lembra: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3). Esta passagem nos revela algo profundo e essencial para nossa vida espiritual: a importância de uma confiança total em Deus, de uma pureza de coração e de uma simplicidade que nos abre ao mistério do Seu amor.

Quando olhamos para o exemplo dos Anjos, vemos que sua missão é sempre cumprida com humildade e prontidão, assim como uma criança que confia plenamente em seus pais. Os Anjos não agem por interesse próprio, mas servem com total entrega e confiança na sabedoria de Deus. De maneira semelhante, Jesus nos chama a ter um coração puro e desarmado, como o de uma criança, para que possamos reconhecer a presença de Deus em nossa vida e confiar em Sua providência, mesmo nas situações mais desafiadoras.

Um coração semelhante ao de uma criança é, acima de tudo, um coração que sabe depender de Deus. As crianças sabem que não podem fazer tudo por si mesmas; elas confiam nos cuidados e no amor daqueles que as cercam. Assim, somos chamados a reconhecer nossa própria dependência do Senhor, sem arrogância ou autossuficiência, mas com humildade. Um coração infantil é um coração livre de orgulho, de desconfiança, e é exatamente essa abertura e simplicidade que nos permitem perceber os cuidados amorosos de Deus, especialmente através dos seus anjos.

Além disso, ter um coração como o de uma criança significa ser capaz de perdoar e de viver na alegria. As crianças têm a capacidade de perdoar com facilidade e não guardam rancor. Elas se alegram nas pequenas coisas, vivendo o presente sem se preocupar excessivamente com o futuro. É esse espírito de alegria e confiança que Jesus quer que cultivemos em nossa vida espiritual, em um seguimento profundo.

Seguir a Cristo é o maior chamado que podemos receber em nossa vida, mas também é um caminho que exige de nós um profundo compromisso. Jesus, ao nos chamar, não nos promete uma jornada fácil, mas garante que, se permanecermos firmes, receberemos a vida verdadeira. Ao olharmos para o exemplo dos santos Anjos e meditarmos sobre o coração semelhante ao de uma criança, somos desafiados a compreender que o seguimento de Cristo exige três virtudes essenciais: perseverança, doação e comunhão.

Perseverança é a virtude dos santos e dos anjos que, continuamente, servem a Deus, mesmo em meio às dificuldades e provações. Seguir a Cristo não é uma decisão momentânea, mas um compromisso de vida inteira. Jesus nos ensina a não desistirmos nas tribulações, a não desanimarmos quando enfrentamos obstáculos, mas a permanecermos firmes na fé. A perseverança é a força que nos mantém em pé, mesmo quando o caminho parece difícil. É um dom que devemos pedir constantemente ao Senhor, sabendo que, com a Sua graça, podemos suportar todas as coisas. 

Em nossa caminhada, é fácil desanimar diante das adversidades: as tentações, as provações, os sofrimentos. Mas Cristo nos dá a certeza de que, com Ele, podemos vencer o mundo. Não devemos desistir, mesmo quando não vemos resultados imediatos, pois a vida cristã é, muitas vezes, uma semeadura silenciosa que só dará frutos a seu tempo. A perseverança nos ensina a confiar que Deus age, mesmo quando nossos olhos não conseguem enxergar.

Doação é outra exigência fundamental para quem deseja seguir Jesus. Cristo doou-se completamente por nós, entregando Sua vida na cruz. Da mesma forma, somos chamados a nos doar, a sair de nós mesmos e a viver uma vida de serviço e entrega aos outros. A vida cristã não é centrada no eu, mas no outro. Quem deseja seguir a Cristo deve aprender a amar como Ele amou: sacrificialmente, sem reservas.

A doação implica abrir mão de nossos interesses pessoais, de nossos desejos egoístas, para acolher a vontade de Deus e servir ao próximo. Esse serviço, muitas vezes, será silencioso, sem aplausos, mas é nesse lugar de humildade que encontramos a verdadeira alegria do Evangelho. Ao nos doarmos, nos tornamos mais parecidos com Cristo e experimentamos a plenitude de Sua vida em nós.

Finalmente, o seguimento de Cristo nos chama à comunhão. Não caminhamos sozinhos; fomos feitos para viver em comunhão com Deus e com nossos irmãos. Cristo nos convida a permanecer unidos a Ele, como o ramo que depende da videira para dar frutos. Essa comunhão é uma relação íntima e pessoal com Jesus, que se alimenta pela oração, pela meditação da Palavra e pela Eucaristia. 

No entanto, a comunhão com Cristo não pode existir sem a comunhão com os irmãos. Somos parte de um corpo, e cada um de nós tem um papel a desempenhar. Quando vivemos em comunhão, nos apoiamos mutuamente, partilhamos as alegrias e as dificuldades, e nos fortalecemos para seguir em frente. A comunhão em Cristo nos ensina a valorizar a Igreja, a comunidade de fé, que nos sustenta e nos ajuda a crescer.

Portanto, queridos irmãos, ao seguir Cristo, lembremo-nos de que essa jornada exige perseverança, doação e comunhão. Se abraçarmos essas virtudes, poderemos experimentar a verdadeira vida que Jesus nos promete, e seremos capazes de testemunhar ao mundo o poder transformador do amor de Deus.

Que os Santos Anjos nos ajudem a caminhar com firmeza e alegria, e que o Senhor nos fortaleça em cada passo do nosso seguimento fiel.

Portanto, neste dia em que celebramos os Santos Anjos, peçamos a graça de ter um coração como o de uma criança: puro, confiante e repleto de amor. E desejamos que, possamos viver com a simplicidade e a confiança que nos tornam dignos do Reino dos Céus, e que os anjos nos inspirem a seguir sempre os passos de Jesus, com a certeza de que estamos sob a proteção e o amor de Deus.

Que assim seja, para a maior glória de Deus!


 Pietro Card. Ferraz

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02 de outubro de 2024
Homilia: 003

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